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Diário de Cassidy

Diário de Cassidy

Sinto o ar pesado, como se algo respirasse antes de mim, o quarto parece menor a cada dia, as sombras alongam-se nos cantos como se tivessem vontade própria, cada vez que fecho os olhos, ele está lá, sempre no mesmo ponto, parado, imóvel, mas eu sei que me observa, o vento traz ecos de passos que não caminharam aqui, mas parecem sempre próximos. Acordo com as mãos marcadas, pequenas arranhaduras ou cortes superficiais que eu não lembro de ter feito, o cheiro de terra e fumaça impregnou minha pele, mesmo que eu tome banho, tudo que toco parece escapar antes de ser meu, cadernos que somem, objetos que aparecem em lugares errados, o silêncio agora carrega palavras que não entendo, mas sinto que obedecer é inevitável. Meu corpo se curva sozinho, como se tivesse vontade própria, a fumaça escorre pelas juntas, pelos dedos, e sinto que posso me tornar nada a qualquer momento, o tempo já não é linear, cada minuto é reflexo de outro que não vivi, e ainda assim sinto a mesma dor, o mesmo peso, os espelhos refletem mais do que deveriam, meu rosto parece desfigurado, meus olhos se alongam, minhas mãos se movem sozinhas. Olhe para a margem da visão, entre as árvores, atrás da porta, ele observa, não há como escapar, mas há algo a aprender se você observar com atenção, às vezes ouço vozes sussurrando meu nome, longe, mas dentro da minha própria cabeça, são suaves, insistentes, como se me guiassem para algum lugar que eu não quero ir, mas sinto que devo seguir. Rabiscos aparecem em meus cadernos, símbolos que não escrevi, eles formam padrões hipnóticos que me atraem e me repelem ao mesmo tempo, as páginas se amontoam e se espalham sozinhas, como se tivessem vontade própria, sinto que cada linha me puxa para dentro de algo que não posso nomear. Ecoam sussurros que ninguém mais ouve, se você ouvir, não responda, eles chamam pelo meu nome, e cada chamada arranca um pedaço de quem eu era, às vezes sinto que estou me apagando, desaparecendo lentamente, deixando apenas esta forma que o mundo vê. Eu ainda estou aqui, mas não sou mais apenas eu, ele está comigo, dentro de mim, e a cada noite a distância entre Cassidy e ele diminui, sinto minhas memórias se confundirem, momentos felizes se misturam a pesadelos, e não consigo mais distinguir onde termina Cassidy e onde começa ele, tudo que conhecia agora parece uma ilusão, uma máscara que eu uso para enganar o mundo, ou talvez a mim mesma.
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